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Foto do escritorStephanie Kohn

Geração esg

Atualizado: 25 de abr. de 2023

A consciência socioambiental dos jovens Z

Em meados dos anos 1990 muita coisa mudou no mundo. A internet chegava à casa das pessoas e uma geração inteira nascia junto da maior inovação do século. Assim, como não podia ser diferente, a Humanidade viu crescer um grupo de jovens com características bastante peculiares: domínio de novas tecnologias, acesso ilimitado a informações, familiaridade com ambientes digitais e virtuais, e uso intensivo de recursos e ferramentas tecnológicas. Agora que a chamada Geração Z – nascidos entre 1995 a 2010 – entrou no mercado de trabalho, muitas dessas características impulsionam tendências de consumo e investimentos. Um estudo feito pelo Bank of America, em 2020, por exemplo, entrevistou 14,5 mil pessoas da faixa etária, vivendo em 10 países diferentes, e descobriu que 80% desse público prefere investir e comprar de empresas alinhadas com os princípios ESG (Environment, Social and Governance, ou, ambiente, social e governança em português). Na verdade, para eles, o conceito ESG parece intrínseco. "Para mim é muito claro que as coisas que funcionam para a sociedade como um todo são as que funcionam para as empresas. A sustentabilidade das empresas é positiva para a sociedade no geral. A empresa funciona melhor, a economia funciona melhor, quando a sociedade funciona melhor", comentou Pedro Siebel, publicitário, 25 anos, em um papo com o Economeaning. Sendo assim, para muitos executivos, a consciência dos jovens torna o ESG irreversível e prioritário.

Investimentos No Brasil, o olhar para um futuro mais ESG também se deve ao fato de que a Gen Z entrou com força na Bolsa de Valores em 2020. O número de pessoas que investem em bolsa saltou de 1 milhão em maio de 2019 para quase 3,2 milhões em outubro de 2020 e uma boa parte delas são jovens. Pesquisa feita pela própria B3, em dezembro de 2020, estima que a idade média dos investidores brasileiros é de 32 anos e a faixa etária correspondente à Gen Z (18 a 24 anos) é o segundo maior público, responsável por 26% dos investimentos. Ano após ano, eles chegam ao mundo dos investimentos – ainda que com ticket médio baixo (R$ 225) – e não pensam apenas no lucro. Eles buscam empresas leais, éticas, responsáveis, conscientes, sustentáveis, diversas e que respeitem todo o ecossistema ao redor. “A revolução da geração Z está começando. A primeira geração nascida em um mundo online agora entra na força de trabalho e obriga outras gerações a se adaptarem a ela, e não vice-versa”, disseram estrategistas do Bank of America (BofA) liderados por Haim Israel à Exame. Para Carla Pari Rodrigues e Oliveira, advogada, 23 anos, a governança corporativa, por exemplo, é o mínimo dentro de uma empresa. "Não consigo nem ver a ética empresarial como valor, porque é o mínimo que se espera", comentou em entrevista ao Economeaning. "Acho difícil desassociar uma frente da outra [ambiental, social e governança]. Entendo que quando uma empresa se compromete com um lado, precisa se comprometer com todos", completou. Conceitos como ética e sustentabilidade empresarial são inerentes à geração, portanto, os jovens vêem como óbvia a relação entre o ESG e o lucro. E não só isso, entendem que somente as companhias engajadas com a agenda é que vencem e perpetuam. "Eu colocaria meu dinheiro nas empresas que acredito que provavelmente não vão cometer erros no longo prazo ou vão ter problemas lá na frente. Por isso não investiria em Petrobras ou Vale, por exemplo", comentou Fernando Cardoso, estudante de direito, 24 anos, em entrevista ao Economeaning. Ao atingir a maioridade, esse novo grupo vai ofuscar os antecessores Millennials, impulsionando os mercados emergentes e ajudando no desempenho dos setores preferidos. Já outras empresas mais ultrapassadas estão propensas a cair no esquecimento, segundo relatório de pesquisa do Bank of America.

Consumo e empreendedorismo

O interessante é que a visão se aplica tanto na hora de investir quanto na hora de comprar e até no momento de empreender. "Eu prefiro nem começar uma empresa se eu for fazê-la mal feita. Uma empresa ESG consegue investimentos mais facilmente e no longo prazo traz resultados muito melhores", comentou Pedro. E Fernando completou: "É muito mais fácil você fazer rodar um negócio que começou do jeito certo." No consumo, a experiência de compra, atendimento e qualidade do serviço e/ou produtos são ainda mais importantes que o preço. "Eu estaria disposta a pagar mais por um atendimento melhor. Também pagaria mais por um produto de uma empresa sustentável ou com boas iniciativas sociais", contou Carla. A jovem disse que a exigência é ainda maior quando se trata de empresas de grande porte, afinal, "elas já lucram o suficiente e podem pensar em ações sociais, de diversidade e etc". No entanto, a sua prioridade é comprar de comerciantes menores e locais – uma tendência que ganhou força na pandemia não somente entre esta faixa etária. Para a especialista em tendências e comportamento da consultoria de consumo WGSN, Daniela Penteado, a maneira como as pessoas compram muda constantemente, por diversos motivos, mas as gerações são grandes impulsionadoras. "Cada uma cresceu de uma maneira diferente, com costumes e valores diferentes também. E isso é percebido no consumo, na maneira como se posicionam no mundo”, disse em entrevista à Consumidor Moderno.

Influência positiva Apesar da Geração Z ser a que mais busca posicionamento social e ambiental das marcas, segundo a especialista, isso não quer dizer que eles sejam os únicos preocupados com o assunto. “Na verdade, atualmente vemos que todas as gerações estão preocupadas com isso e buscam consumir mais conscientemente”, afirmou. Um dos motivos para isso é o fato das gerações, hoje, terem uma diferença de comportamento cada vez menor, por conta da tecnologia. Todos estão conectados nas mesmas redes sociais e muitos assuntos acabam se encontrando. Na visão de Daniela o fato de as gerações conviverem entre si também colabora com a disseminação desses hábitos e comportamentos. “É possível encontrar, numa mesma família, membros de todas as gerações convivendo juntos diariamente. É uma avó baby boomer, pais da geração X, filhos millennials ou geração Z e até netos geração Alpha (nascidos a partir de 2010). Então, esses assuntos se mesclam no dia a dia de todos”, explicou.

Plano futuro É importante lembrar, no entanto, que para que essa geração prospere de fato e se torne o motor da economia daqui para a frente, eles precisam reconstruir um mundo pós-pandêmico. Relatório do World Economic Forum, de agosto deste ano, se aprofundou para entender quais serão os principais temas, promovidos pela Gen Z, que irão gerar mudanças sociais, governamentais e de negócios nos próximos anos. O report, que compilou mais de 2 milhões de diálogos realizados em 187 países diferentes, chegou a 10 macrotendências:

  1. - Despertar do consumo consciente;

  2. - Conexão de toda a humanidade;

  3. - Baixa tolerância em relação à desinformação e ameaças online;

  4. - Atenção ao futuro da democracia;

  5. - Adesão ao imposto sobre a riqueza global e redes de segurança social mais resilientes;

  6. - Diálogos sobre saúde mental e o término do estigma associado às doenças mentais;

  7. - Ações ferozes para limitar o aquecimento global a 1,5 ºC;

  8. - Transparência e foco no capitalismo e stakeholders;

  9. - Promoção de acesso equitativo a cuidados de saúde em todo o mundo;

  10. - Exigência do fim do policiamento militarizado contra ativistas e negros.Youth Recovery Plan.

"À medida que os membros desta próxima geração amadurecem e se tornam futuros líderes, consumidores, trabalhadores e eleitores, minha geração e além - os Baby Boomers e a Geração X - devem ouvir e agir de acordo com seus insights para sobreviver e prosperar", escreveu Klaus Schwab, fundador e chairman do World Economic Forum, no

Além disso, a pesquisa indica que finanças verdes, métricas ESG e inclusão serão vetores robustos na recuperação econômica. Esse tipo de comportamento reforça ainda iniciativas como as que atrelam os salários dos executivos a fatores ambientais, sociais e de governança – tema do nosso podcast da semana que vem.


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