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  • Foto do escritorStephanie Kohn

Comoditização dos fundos ESG

Atualizado: 25 de abr. de 2023

Alta oferta não significa alta qualidade


A oferta de investimentos ESG explodiu de 2020 para cá. Só na modalidade ETF, fundo cuja composição se espelha em um índice do mercado, existem 758 opções pelo mundo, sendo que somente 200 foram criados no último ano. No Brasil não é diferente. Em uma rápida busca pelo site da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) nos deparamos com 124 fundos que carregam ESG no nome, sendo que a maioria foi constituída em 2020. Eles existem em diversidade: renda fixa, renda variável, multimercados, além de ativos alternativos, como créditos de carbono.


Para se ter ideia da popularidade desse tipo de investimento, um levantamento feito pela Morningstar a pedido do Capital Reset mostra que foram criados 85 novos fundos rotulados como sustentáveis em 2020, enquanto em 2019 haviam sido apenas seis. A pesquisa ainda aponta que fundos ESG captaram ao menos R$ 2,5 bilhões em 2020 — e passaram de R$ 3,1 bilhões para R$ 6,8 bilhões ao longo do ano, já considerando a valorização dos ativos no período.


Embora ainda pequeno diante de todo o volume captado pela indústria de fundos em 2020, o montante na casa dos bilhões para um segmento que ganhou relevância no país recentemente é sintomático. Afinal, estamos lidando com a comoditização dos fundos ESG, ou seja, fundos com características semelhantes e sem diferenciais marcantes entre eles? Ou pior: o greenwashing teria dominado os investimentos ESG?


A resposta é sim para ambas perguntas. A recente agenda ESG no Brasil, puxada pela pressão de investidores estrangeiros, fez com que muitos agentes do mercado se apressassem para lançar sua versão de fundo com foco no meio ambiente, social e governança. No entanto, para especialistas, como Rodrigo Tavares, fundador e CEO do Granito Group, instituição com foco em economia sustentável, até o momento, a maioria dos fundos ESG do Brasil não atende às expectativas do mercado internacional. O head de análises da Suno Research, Victor Montezuma, também alerta para a baixa qualidade dos fundos ESG quando analisados sob o aspecto de comprometimento com a agenda.


"No geral, a nota é baixa para os fundos ESG brasileiros, abaixo da média, entre 4 e 5. A falta de taxonomia faz com que muitos se aproveitem do pouco conhecimento do brasileiro", comentou Victor ao Economeaning.A oferta de investimentos ESG explodiu de 2020 para cá. Só na modalidade ETF, fundo cuja composição se espelha em um índice do mercado, existem 758 opções pelo mundo, sendo que somente 200 foram criados no último ano. No Brasil não é diferente. Em uma rápida busca pelo site da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) nos deparamos com 124 fundos que carregam ESG no nome e a grande maioria foi constituída em 2020. Eles existem em diversidade: renda fixa, renda variável, multimercados, além de ativos alternativos, como créditos de carbono.

Para se ter ideia da popularidade desse tipo de fundo, um levantamento feito pela Morningstar a pedido do Capital Reset mostra que foram criados 85 novos fundos rotulados como sustentáveis em 2020, enquanto em 2019 haviam sido apenas seis. A pesquisa ainda aponta que fundos ESG captaram ao menos R$ 2,5 bilhões em 2020 — e passaram de R$ 3,1 bilhões para R$ 6,8 bilhões ao longo do ano, já considerando a valorização dos ativos no período.


Embora ainda pequena diante de todo o volume captado pela indústria de fundos em 2020, o montante na casa dos bilhões para um segmento que ganhou relevância no país recentemente é sintomático. Afinal, estamos lidando com a comoditização dos fundos ESG, ou seja, fundos com características semelhantes e sem diferenciais marcantes entre eles? Ou pior: o greenwashing dominou os investimentos ESG?

A resposta é sim para ambas perguntas. A recente agenda ESG no Brasil, puxada pela pressão de investidores estrangeiros, fez com que muitos se apressassem para lançar sua versão de fundo com foco no meio ambiente, social e governança. No entanto, para especialistas, como Rodrigo Tavares, fundador e CEO do Granito Group, instituição com foco em economia sustentável, até o momento a maioria dos fundos ESG do Brasil não atendem às expectativas do mercado internacional. O head de análise da Suno Research também dá nota baixa à qualidade dos fundo ESG quando analisados sob o aspecto de comprometimento com a agenda.

"No geral, a nota é baixa para os fundos ESG brasileiros, abaixo da média, entre 4 e 5. A falta de taxonomia faz com que muitos se aproveitem do pouco conhecimento do brasileiro", comentou Victor ao Economeaning.

*Escreva ESG na caixa de pesquisa e selecione FDOS de investimentos no tipo de fundo.

Sem critérios

O problema, conforme Victor comentou, é que o Brasil não conta com nenhuma descrição, identificação ou classificação de fundos considerados ESG por parte das entidades legais. De acordo com o fundador da Granito, o Brasil tem entre 150 e 200 fundos autodeclarados ESG, sem que haja racionalidade ou consistência em terminologia ou metodologia. Este cenário dificulta a comparabilidade entre produtos, inibe a responsabilização dos gestores e prejudica o amadurecimento e a profissionalização do mercado.


"Quando o Brasil tiver princípios e regras de classificação de fundos ESG haverá necessariamente uma reorganização do mercado. Muitos fundos atuais ESG deixarão de sê-lo. Enquanto fundos que não o são atualmente poderão pleitear receber essa designação, após um processo interno transformativo", disse ao Economeaning.


Segundo Victor, fundos autodeclarados ESG com práticas muito fora do mercado não convencem, mas há diversos deles que usam a roupagem correta para simular comprometimento com a agenda, quando, na verdade, estão praticando o ESGwashing e induzindo o investidor ao erro. Ainda assim, o analista é otimista.


Ele acredita que o aumento da pressão do mercado deve tornar o investimento ESG mais sério dentro de uma janela de cinco anos. "Não faz muito tempo que a Europa criou sua taxonomia para os fundos ESG e, curiosamente, houve queda no montante investido nos ativos, porque muitas opções acabaram caindo. No entanto, hoje, todos são muito mais comprometidos com a agenda", disse.


A própria CVM informou ao Economeaning que se encontra em andamento a Audiência Pública 08/20 que tem como principal objetivo modernizar a regulamentação dos fundos de investimento. A ANBIMA, por sua vez, também tem trabalhado para criar uma classificação desses fundos no país e, talvez, chegar à autorregulação do mercado de produtos sustentáveis.


"Ainda não há um standard (padrão) universal de classificação de fundos que integram ESG. Atualmente existem cerca de 70 princípios, códigos, manuais de boas práticas — nacionais e regionais. Muitos deles apontando em direções contraditórias. Mas, em 2022, o mercado criará essa padronização. No Brasil, a ANBIMA está a trabalhar intensamente nesta área. Na Europa, a taxonomia e o novo standard do BSI/ISO para fundos de investimento serão pilares importantes", explicou Rodrigo.


De olho no fundo


Por tudo isso, o investidor deve ficar atento onde aplica seu dinheiro. O CEO da Granito diz que, no caso de um investidor institucional, é preciso ir além da informação provida pela gestora. Ele tem que ter capacidade para separar o trigo do joio, ou seja, de avaliar o componente ESG de um gestor da mesma forma que avalia os componentes mais tradicionais.


"A minha recomendação é que não olhem para a carteira, olhem para o gestor e para o fundo. Se ambos integrarem políticas, práticas e dados ESG de forma organizacional e processual, então necessariamente a carteira estará alinhada. Não existe uma carteira ESG, existe um gestor ESG", sugeriu.


Na mesma linha, Victor aconselha o investidor pessoa física avaliar, mais do que a carteira, a gestão do fundo. "O histórico de tomada de decisão da empresa é o indicativo. Em toda sua história quais foram as empresas em que ele investiu?", questiona. Outro ponto importante é identificar se o fundo está alinhado com as práticas internacionais como, por exemplo, se ele é signatário ao PRI (Principles for Responsible Investments). "Claro que isso não é tudo, mas mostra o comprometimento maior do fundo, pois para ser signatário, eles precisam atender a alguns requisitos", completou.


O foco na gestão em vez da carteira é, na visão de Rodrigo, o mais importante, pois, por estratégia, nem sempre as empresas do portfólio atenderão de imediato uma agenda ESG. Segundo ele, muitas pessoas, ao verem petrolíferas, tabaqueiras ou mineradoras em uma carteira, assumem automaticamente que o fundo não é ESG, mas isso não é necessariamente verdade.


"Uma das gestoras ESG mais profissionais no mercado brasileiro, a IG4 Capital, tem como tese de investimentos a compra de ativos em dificuldades (distressed assets). Eles podem investir em ativos com enormes problemas sociais ou ambientais para fazer um turnaround ESG nesses ativos de forma a destravar valor financeiro. A carteira deles, no início do aporte de capital, não tem ativos com boas credenciais ESG", encerrou.


Por outro lado, Victor acredita que avaliar as carteiras também é necessário, afinal, elas são mutáveis e dinâmicas. Ele ainda recomenda a pesquisa por prestadores de serviço internacionais e cotistas – administradores ou custodiantes –, pois isso pode ser um forte indicativo de ESG. "O estrangeiro carrega a pauta há mais de década. Se o fundo fugir muito disso, os cotistas podem pedir uma prestação de contas", finalizou.


Outras dicas são: buscar por informações do fundo no site da CVM, por meio do nome ou CNPJ, além de conversar com a gestora, e fazer comparações de fundos por meio de ferramentas gratuitas.

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